Adriana Maria Loureiro Dissertação na íntegra
 

Título: A presença feminina no magistério do curso técnico em agropecuária no CTUR/UFRRJ nos anos de 1970.

Resumo: O debate sobre gênero tem, nos últimos anos, ocupado cada vez maior espaço, principalmente na área das Ciências Humanas e Sociais. Historicamente a mulher atravessou mudanças, chegando, hoje, a ocupar posições na sociedade dificilmente pensadas por suas avós ou mesmo mães. Partindo do pressuposto de que há uma construção social e histórica do gênero e que a educação tem papel fundamental neste processo, o objetivo deste trabalho é o de discutir a presença feminina no magistério do curso técnico em agropecuária no Colégio Técnico vinculado à UFRuralRJ (CTUR). Tradicional nicho masculino, com docentes em sua maioria formados em zootecnia, veterinária e agronomia, o curso de agropecuária do CTUR experimentou, nos anos de 1970, uma nova situação. Com a licenciatura em ciências agrícolas como um dos requisitos para formar o profissional do ensino nesta área do conhecimento, a mulher começou a ganhar espaço nas salas de aula do curso. Dessa forma, a questão que nos move é o debate em torno das relações dentro da escola a partir deste acontecimento. O referencial teórico tem como base os estudos de Jane Soares de Almeida, Guacira Lopes Louro, Cristina Bruschini, Amparo Blat Gimeno, entre outras. Curiosamente – ou obviamente – são mulheres falando de mulheres, mulheres pensando as questões femininas e buscando um novo entendimento para a nova sociedade em formação, com a mulher ocupando múltiplas funções, com múltiplas faces e múltiplos caminhos a seguir. Nesse sentido, a apresentação deste trabalho é dividida em quatro etapas. Na primeira, faremos algumas considerações sobre questões que envolvem o tema gênero e educação, fugindo ao estereótipo da mulher oprimida pelo homem castrador e fugindo, também, da visão simplificada de que discutir gênero é unicamente falar sobre mulher, assumindo que neste estudo as questões sobre gênero serão analisadas sob uma perspectiva das relações homem/mulher/educação travadas em nossas escolas e dentro do contexto social e histórico. Assim, analisaremos como se dá a construção de gênero em nossa sociedade, discutiremos o que é ser mulher neste mundo ocidental e faremos ainda um pequeno histórico sobre a escolarização feminina no Brasil. Depois discorreremos sobre a feminização do magistério no contexto educacional brasileiro, marcada por pensamentos sobre o magistério como “vocação” feminina, pois à mulher caberia formar os homens fortes da nação, seja no lar ou na escola e, consequentemente, sobre uma possível desvalorização da carreira. Na terceira parte, abordaremos a relação entre educação e trabalho feminino nos dias de hoje. Finalmente, chegaremos à situação do Colégio Técnico da UFRRJ, com a apresentação de um trabalho cuja metodologia utilizada é a da história oral, com relatos de ex-diretores, ex-alunos e ex-alunas, funcionários e da primeira mulher a lecionar no curso técnico em agropecuária nesta instituição. Tendo uma história de funcionária técnico-administrativa na escola, esta professora cursou a licenciatura em ciências agrícolas na Universidade Rural, formou-se em 1974 e passou a exercer a função de docente, alterando o status quo e abrindo caminhos para outra vertente do trabalho feminino no campo. A fala desta mulher é um exemplo de que as vozes femininas, muitas vezes caladas ainda em nossas escolas, têm um caminho de superação recente.