Diante desses
pares de contraditórios que emergem nesses três pilares do conhecimento
da
ciência moderna,
a ordem, a separabilidade e a razão, Morin sugere que se caminhe em
direção a uma
razão aberta, que não se restrinja aos princípios da lógica clássica. Não se
trata, segundo
ele, de substituir a ordem pela desordem, a separabilidade pela
não-
separabilidade,
nem a lógica clássica por uma outra lógica ou por uma desrazão.
Apoiando-se
então numa razão aberta ou complexa (que busca uma articulação dialógica
entre esses
pares de contraditórios) e nessas várias teorias: Teoria da Informação (década
de
40), Teoria dos
Sistemas (também nos anos 40), teorias da auto-organização (década de 70)
e a Teoria do
Caos (décadas de 70 e 80), foi sendo elaborado o Pensamento Complexo.
Além dessa
derrogação das três idéias centrais da ciência moderna: a ordem, a
separabilidade e
a razão, a premissa do reducionismo: a existência de um único nível de
realidade,
aquele descrito pela física clássica e percebido pelos cinco sentidos,
foi
derrubada.
Essa física
clássica, que passou ser o modelo da ciência empírico-racional, está
fundamentada em
duas idéias gerais: (1) a de continuidade: pois de acordo com os órgãos
dos sentidos
“não se pode passar de um ponto a outro do espaço e do tempo sem passar por
todos os pontos
intermediários” (Nicolescu, 2001, p. 18); (2) a de causalidade local:
“qualquer
fenômeno físico poderia ser compreendido por um encadeamento contínuo
de
causas e
efeitos”, sendo que cada causa gera um efeito próximo e cada efeito advém de
uma
causa próxima.
Ambas geram um terceiro conceito, (3) o de determinismo: pois “se
soubermos as
posições e velocidades dos objetos físicos num dado instante,
podemos
prever suas
posições e velocidades em qualquer outro momento do tempo” (ibid., 19).
Nicolescu
observa que a simplicidade e a beleza desses três conceitos fascinaram grande
parte dos
cientistas e intelectuais dos últimos séculos, que proclamaram a física a rainha
da
ciência e
reduziram toda a realidade ao físico e ao biológico, gerando a ideologia
cientificista,
que se tornou hegemônica na elite intelectual do século XIX. A conseqüente
redução do
funcionamento do Universo ao de uma máquina perfeitamente regulada e
previsível fez
com que todos os outros níveis de realidade e de percepção fossem
descartados e o
Universo fosse dessacralizado para ser conquistado. Todos os outros níveis
da Natureza e do
ser humano foram lançados “nas trevas do irracional e da
superstição”
(ibid., 20) e o
sujeito foi transformado em objeto. Essa simplicidade aparente das leis da
Natureza gerou
uma euforia cientificista que contagiou muitas mentes, que postularam a
existência de
correspondências entre essas leis e as leis econômicas, sociais e históricas,
gerando várias
teorias e ideologias mecanicistas e materialistas ⎯ como, por exemplo, o
marxismo e
capitalismo. Essas teorias e ideologias tornaram a idéia “da existência de um
único nível de
realidade” hegemônica nos ambientes científicos e acadêmicos.
No entanto, no
início do século XX, Max Planck fez uma descoberta que começou a
demolir o
paradigma científico vigente na época. Ele descobriu que a energia tem uma
estrutura
descontínua: ela se move por saltos, “sem passar por nenhum ponto
intermediário”
(ibid., p. 18). Essa descoberta, que derrubou um dos pilares da física
clássica, a
idéia de continuidade, colocou em questão outro dos seus pilares, a
causalidade